9 de Julho e a Revolução na Educação: Legado da Revolução de 32 nas Escolas Paulistas

09/07/2024
9 de Julho e a Revolução na Educação
9 de Julho e a Revolução na Educação

Saiba como a Revolução Constitucionalista de 1932, marco do feriado de 9 de julho em São Paulo, transformou a educação no estado, desde as mudanças curriculares até a forma como o tema é abordado nas escolas.

A Influência da Revolução Constitucionalista na Educação em São Paulo: Da Luta Armada à Sala de Aula

O feriado de 9 de julho em São Paulo, Dia da Revolução Constitucionalista de 1932, marca um evento crucial na história do estado e do país. Mais do que um levante armado pela reconstitucionalização do Brasil, a Revolução de 32 deixou um legado profundo na educação paulista, desde as mudanças curriculares até a forma como o tema é abordado nas escolas.

A participação de crianças nos bastidores da Revolução de 1932

A participação de crianças nos bastidores da Revolução de 1932 foi marcada por diversas formas de colaboração e apoio aos combatentes paulistas. O texto destaca os seguintes exemplos:

  • Zeferina Púpio de Oliveira César: Aos dez anos, ajudava seus pais a distribuir café, cigarros e comida para os soldados que passavam pela estação de trem de Pindamonhangaba. Além disso, auxiliava em pequenas costuras nas roupas dos combatentes.
Declaração de Zeferina César sobre participação na Revolução de 1932
Declaração de Zeferina César sobre participação na Revolução de 1932
  • Julio Couto: Com 14 anos, trabalhou no S.A.T.O. (Serviço de Aprovisionamento de Tropas em Operações), no mercado de onde eram transportados suprimentos para Campinas. Também atuou como mensageiro e ajudou nos armazéns da Estrada de Ferro na Barra Funda.
Julio Couto (à direita)
Julio Couto (à direita)
  • Conrado Serafim Blasi: Serviu no Batalhão Infantil de Botucatu como estafeta, responsável por distribuir correspondência, incluindo cartas enviadas pelos soldados a seus familiares.

Esses exemplos ilustram como crianças de diferentes idades e em diferentes locais contribuíram para o esforço de guerra nos bastidores da Revolução Constitucionalista. Seus relatos mostram a mobilização e o engajamento da sociedade paulista em diversas frentes durante o conflito.

MMDC: biografia de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo

Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo

Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, conhecidos pela sigla MMDC, foram quatro jovens mortos em 23 de maio de 1932 durante uma manifestação em São Paulo que pedia a constitucionalização do país e a saída do interventor nomeado por Getúlio Vargas. Seus nomes se tornaram um símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932 e são homenageados em diversas ruas, praças e monumentos no estado de São Paulo.

  • Mário Martins de Almeida: Filho de cafeicultores, não era estudante e estava apenas de passagem pelo local da manifestação quando foi morto.
  • Euclides Bueno Miragaia: Era de São José dos Campos e trabalhava no cartório do tio em São Paulo.
  • Dráusio Marcondes de Souza: O único estudante do grupo, tinha apenas 14 anos quando foi morto.
  • Antônio Américo de Camargo Andrade: Não era estudante, era casado e tinha três filhos. Seu pai era fazendeiro na região de Amparo, no interior de São Paulo.

A morte desses jovens, transformados em mártires da causa constitucionalista, teve um forte impacto na mobilização da população paulista contra o governo Vargas e contribuiu para a eclosão da Revolução de 1932. Embora não fossem todos estudantes, como divulgado pela imprensa da época, a imagem dos "jovens estudantes" mortos pela "ditadura" foi utilizada para fortalecer o movimento e construir uma narrativa de heroísmo e sacrifício em torno da causa paulista.

A Revolução e Seus Impactos Imediatos na Educação

Durante o conflito, muitas escolas foram transformadas em hospitais ou quartéis, interrompendo as aulas e envolvendo professores e alunos na luta. No entanto, a Revolução também plantou as sementes para mudanças significativas na educação paulista.

Do Campo de Batalha ao Currículo Escolar: A Evolução do Ensino da Revolução de 32

Décadas de 1930 e 1940: A Revolução de 32 rapidamente se tornou um tema central nas aulas de história e educação cívica, enaltecendo o heroísmo paulista e a importância da constituição.

Décadas de 1950 e 1960: O feriado de 9 de julho foi institucionalizado, com desfiles e eventos cívicos, solidificando a Revolução na memória coletiva e impulsionando reformas educacionais em busca de modernização e qualidade.

A Revolução no Currículo Moderno: Tecnologia e Novas Abordagens

Hoje, a Revolução de 32 continua presente nas escolas paulistas, com o uso de documentários, filmes e recursos interativos para tornar o aprendizado mais envolvente. Projetos educacionais incentivam a pesquisa e a reflexão crítica sobre o evento, conectando-o a temas como cidadania e direitos humanos.

O Feriado de 9 de Julho: Uma Ponte Entre o Passado e o Futuro

O Dia da Revolução Constitucionalista é mais do que uma data comemorativa. É um momento para refletir sobre as causas e consequências do conflito, sobre as diferentes perspectivas e interpretações, e sobre a importância da democracia e da participação cidadã.

A Revolução e a Criação da USP: Um Legado para a Educação e a Ciência

A Revolução de 32 também impulsionou a criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, concretizando o sonho de intelectuais paulistas por uma instituição voltada para a alta cultura e a pesquisa científica.

Considerações Finais: Um Legado Multifacetado

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um evento complexo, com múltiplas interpretações e impactos duradouros. Seu legado na educação paulista é inegável, moldando a forma como as novas gerações aprendem sobre a história do estado e do país, e inspirando a busca por um futuro mais justo e democrático.

Fontes:

 

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DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Educadores paulistas e suas memórias sobre a Revolução de 1932. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 48, p. 1-14, dez. 2012.

SERRAZES, Karina Elizabeth. História e memória do Movimento Constitucionalista de 1932 em São Paulo: caminhos da pesquisa e do ensino. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, v. especial, n. 2, p. 1-13, ago. 2013.

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FRANÇA, Sebastião Fontineli. Uma visão geral sobre a educação brasileira. Integração, Brasília, v. 1, p. 75-88, 2008.

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