O que são hipóteses silábicas? Definição e exemplos
Saiba o que são hipóteses silábicas e como elas ajudam no processo de alfabetização das crianças. Definições e exemplos práticos!
O que são hipóteses silábicas?
Durante o processo de alfabetização, mesmo antes de uma criança aprender a ler e escrever de forma convencional, ela começa a formular hipóteses sobre o sistema de escrita. Essas suposições são denominadas "hipóteses silábicas", pois envolvem a relação entre os sons da fala e as letras ou sílabas que as representam. Com o tempo, conforme a criança explora o mundo da escrita, suas hipóteses tornam-se mais sofisticadas e se aproximam das regras convencionais da língua escrita.
É importante que os professores alfabetizadores identifiquem em qual estágio cada criança está para direcionar suas práticas pedagógicas de forma mais eficaz. Descubra a seguir as cinco principais hipóteses silábicas que compõem o desenvolvimento da escrita das crianças.
Conheça as hipóteses silábicas
1. Hipótese Alfabética (ALF)
A hipótese alfabética representa o estágio mais avançado do processo de alfabetização. Nesse nível, a criança já compreendeu o princípio básico do sistema de escrita alfabética, que é a correspondência entre fonemas (sons) e grafemas (letras). Ela sabe que cada som da fala deve ser representado por uma ou mais letras e começa a se questionar sobre a grafia correta das palavras.
O que a criança sabe:
- Consegue produzir registros que podem ser lidos por outras pessoas.
- Inicia o questionamento sobre a grafia correta das palavras, como a diferença entre "x" e "ch" em palavras como "peixe" e "pichar".
- Entende que a escrita vai além da simples transcrição do som falado e que há regras que ditam qual letra ou combinação de letras deve ser usada em cada caso.
Exemplos:
- "PASARO" para PÁSSARO
- "CAZA" para CASA
- "QUIRIDA" para QUERIDA
- "CARO" para CARRO
Este é um momento crucial, pois a criança está cada vez mais próxima da escrita convencional. Embora ainda cometa erros ortográficos, suas produções já seguem as regras básicas da escrita, e ela está ciente da necessidade de seguir convenções ortográficas.
2. Hipótese Silábico-Alfabética (SAL)
Neste estágio, a criança começa a utilizar mais de uma letra para representar cada sílaba, aproximando-se da escrita correta. Embora ainda haja uma mistura entre o uso de uma letra por sílaba e tentativas de incluir mais letras, a criança percebe que uma única letra pode não ser suficiente para representar todos os sons da fala.
O que a criança sabe:
- Não registra mais apenas uma letra por som, mas começa a usar várias letras em uma sílaba.
- O incômodo com sua própria produção é um sinal de que está começando a se aproximar da escrita convencional. Muitas vezes, a criança pede para trocar ou acrescentar letras, demonstrando um avanço no entendimento do sistema de escrita.
Exemplos:
- "HXUVVA" para CHUVA
- "CLEDRO" para CALENDÁRIO
- "SAMALE" para SALAME
- "TOAR" para TORTA
Neste nível, há uma evolução significativa em relação à hipótese anterior, já que a criança demonstra uma consciência crescente das regras da escrita, mesmo que ainda cometa erros.
3. Hipótese Silábica com Valor Sonoro (SCV)
Na hipótese silábica com valor, a criança começa a associar cada sílaba a um som específico. Embora ainda não domine a escrita alfabética, já compreende que as letras têm um valor sonoro e tenta representar cada sílaba com uma letra ou conjunto de letras.
O que a criança sabe:
- Entende que cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante.
- Geralmente, usa vogais para representar cada sílaba, sem ainda compreender plenamente o conceito de sílaba.
- Há uma associação entre a quantidade de letras e o número de sílabas da palavra.
Exemplos:
- "ABAI" para ABACAXI
- "AAO" para MACACO ou CAVALO
- "AEO" para CADERNO
- "IAEIO" para BRIGADEIRO
Essa fase é um avanço significativo, pois a criança começa a relacionar os sons da fala com a escrita, mesmo que a representação ainda não seja totalmente precisa.
4. Hipótese Silábica sem Valor Sonoro (SSV)
Na hipótese silábica sem valor, a criança já percebe que a escrita deve ser composta por várias letras, mas ainda não estabelece uma correspondência exata entre as letras e os sons. Nesse nível, a criança utiliza uma letra para cada sílaba, mas sem se preocupar com o valor sonoro dessas letras.
O que a criança sabe:
- Entende que há uma relação entre a quantidade de letras e a quantidade de sílabas.
- Usa letras de forma aleatória, sem se preocupar com a correspondência sonora correta.
- Muitas vezes, utiliza uma única letra para representar uma sílaba inteira.
Exemplos:
- "CTD" para BANANA
- "ADOG" para TELEFONE
- "KEA" para MACACO
- "CJTI" para ELEFANTE
Embora a criança ainda não tenha um entendimento completo da relação entre som e letra, já começa a organizar suas produções com uma lógica relacionada à quantidade de sílabas.
5. Hipótese Pré-Silábica (PRÉ)
A hipótese pré-silábica é o estágio inicial da escrita. Nessa fase, a criança ainda não tem consciência da relação entre o que se fala e o que se escreve. Suas produções são compostas por letras aleatórias, garatujas (rabiscos) e até números.
O que a criança sabe:
- Não há correspondência entre partes do falado e partes do escrito.
- As produções podem incluir letras do nome da criança, números ou desenhos.
- A escrita é vista como algo visual, sem relação com o som.
Exemplos:
- "AJFABEOIP" para PANELA
- "ABEV" para MAÇÃ
- "ICLO" para BEXIGA
- "DO8C" para BOLO
Este é o ponto de partida para o desenvolvimento da escrita, onde a criança começa a explorar o uso de símbolos, mesmo que ainda sem sentido para representar as palavras faladas.
A importância de identificar as hipóteses silábicas
Identificar em qual hipótese silábica a criança está é essencial para o professor alfabetizador. Esse conhecimento permite que o educador adapte as atividades e intervenções pedagógicas de acordo com o nível de cada aluno, promovendo uma aprendizagem significativa e progressiva.
Além disso, compreender que o processo de alfabetização envolve erros e acertos é fundamental. Cada uma dessas hipóteses representa um avanço no entendimento da escrita e deve ser incentivada e explorada em sala de aula por meio de atividades que promovam a reflexão sobre a correspondência entre os sons e as letras.
Psicogênese da Língua Escrita
Nesta obra paradigmática de Ana Teberosky e Emilia Ferreiro, adotada em todo mundo, as autoras utilizam a psicolinguística contemporânea e a teoria de Piaget para demonstrar como a criança constrói diferentes hipóteses acerca do sistema de escrita, antes de chegar a compreender as hipóteses de base do sistema alfabético, oferecendo um subsídio único para professores, psicopedagogos, linguistas e todos aqueles preocupados com a educação eficaz.
Considerações finais
As hipóteses silábicas demonstram como a escrita se desenvolve de forma gradual e complexa nas crianças. Com o apoio adequado, os alunos progridem de um estágio inicial e experimental para a escrita convencional, dominando as regras e convenções da língua. O papel do professor é crucial para orientar esse processo e garantir que todas as crianças atinjam o nível alfabético, onde a leitura e a escrita passam a ser ferramentas efetivas de comunicação e expressão.
Fontes:
FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. Cortez Editora, 2017.
FERREIRO, Emilia. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. Cad. Pesqui, p. 7-17, 1985
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. 22. ed. São Paulo: Artmed, 2001. 240 p.